sexta-feira, outubro 29, 2004
Magda e Leandro (A saga continua)
Depois de muitas idas e vindas, breves encontros e grandes desencontros, nossos devotos de Vênus conseguiram acertar as respectivas agendas, povoadas de compromissos profissionais, bate-papo com os amigos, bebedeiras, visitas a parentes e outras tantas coisas da vida.
Estavam no apartamento dela, recém-chegados do encontro que haviam marcado pelo celular tendo como referência uma pracinha perto dali.
- Moça corajosa. Correu o risco de trazer um cara quase desconhecido para o teu apartamento.
- Corajosa eu sei que sou. Quanto ao cara, ele não vai passar dos limites que eu estabelecer.
- Como pode ter certeza? Perguntou ele com um ar de zombaria.
- Tendo. Respondeu ela com segurança. E, de mais a mais, a minha intuição não falha.
- Ok, falou ele rindo, quando estivermos juntos tu me defendes do mundo e eu assumo o lado da vaidade.
- Eu sei que de mim eu não vou te defender...
- Isto eu não quero mesmo... Disse ele enlaçando ela.
- Aceita alguma bebida? Perguntou ela se desvencilhando com delicadeza.
- Tem mineral?
- A casa está em falta. Faz o seguinte: Pega água gelada na cozinha enquanto eu troco de roupa.
- A cozinha não era grande, porém estava decorada com bom gosto e uma ampla janela de vidro garantia a iluminação. Uma geladeira pequena, um fogão, um armário e uma mesa para duas pessoas completavam o mobiliário. Serviu dois copos com água e voltou para a sala. Largou um deles sobre a mesa de centro. Aproximou-se da janela. O apartamento era de frente e alto o suficiente para mostrar uma vista comum de uma parte da cidade. Em determinado ângulo dava até para ver um pedaço do rio.
- Bem-vindo ao meu paraíso particular. Disse ela. Vestia uma saia curta e uma camiseta branca. O resultado final era sensual.
- Este é o meu castelo nas nuvens. Falou com ar de menina, enquanto ensaiava passos de dança.
- Se você não notou, quando pegamos o elevador, estamos no 9º andar, portanto nem pense em fugir de mim escapando pela janela. Brincou.
- Nem pensar, eu estou apaixonado...
- Claro, meu anjo, e se depender de mim vai continuar por um bom tempo. Riu.
A tarde daquele sábado passou vagarosamente. Escutaram jazz, conversaram, riram bastante, contaram piadas e falaram muito sobre suas vidas e expectativas futuras.
Quando chegou a noite jantaram e tomaram vinho. Deitaram no chão e com naturalidade se despiram. Trocaram muitos beijos e carinhos prolongando ao máximo as preliminares. O olhar de ambos revelava puro encantamento e felicidade. Lentamente fundiram os corpos e no final o ritmo da respiração, o jeito dela de gemer e de falar baixinho palavras ternas emocionaram profundamente ele. A luz da sala estava apagada. Pela janela entrava a luz da rua e os distantes sons da cidade. Na FM tocava Nara Leão:
No alto de uma montanha existe um lago azul
É lá que a lua se banha
Até amanhã de manhã me banha de luz (...)
Vejo a lua dizendo pro sol: eu sou tua namorada.
Em meu quarto crescente é você quem brilha e me reluz
Se você vai iluminar o Japão eu fico abandonada
Num pedaço qualquer de canção na voz dessa mulher...
Adormeceram. Na madrugada uma leve brisa abençoou um casal que dormia de mãos dadas, corpos pacificados e alma leve.
(Final do terceiro ato e começo de uma união que promete. Não sei bem o que, mas que promete, ah, lá isto promete.)
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Depois de muitas idas e vindas, breves encontros e grandes desencontros, nossos devotos de Vênus conseguiram acertar as respectivas agendas, povoadas de compromissos profissionais, bate-papo com os amigos, bebedeiras, visitas a parentes e outras tantas coisas da vida.
Estavam no apartamento dela, recém-chegados do encontro que haviam marcado pelo celular tendo como referência uma pracinha perto dali.
- Moça corajosa. Correu o risco de trazer um cara quase desconhecido para o teu apartamento.
- Corajosa eu sei que sou. Quanto ao cara, ele não vai passar dos limites que eu estabelecer.
- Como pode ter certeza? Perguntou ele com um ar de zombaria.
- Tendo. Respondeu ela com segurança. E, de mais a mais, a minha intuição não falha.
- Ok, falou ele rindo, quando estivermos juntos tu me defendes do mundo e eu assumo o lado da vaidade.
- Eu sei que de mim eu não vou te defender...
- Isto eu não quero mesmo... Disse ele enlaçando ela.
- Aceita alguma bebida? Perguntou ela se desvencilhando com delicadeza.
- Tem mineral?
- A casa está em falta. Faz o seguinte: Pega água gelada na cozinha enquanto eu troco de roupa.
- A cozinha não era grande, porém estava decorada com bom gosto e uma ampla janela de vidro garantia a iluminação. Uma geladeira pequena, um fogão, um armário e uma mesa para duas pessoas completavam o mobiliário. Serviu dois copos com água e voltou para a sala. Largou um deles sobre a mesa de centro. Aproximou-se da janela. O apartamento era de frente e alto o suficiente para mostrar uma vista comum de uma parte da cidade. Em determinado ângulo dava até para ver um pedaço do rio.
- Bem-vindo ao meu paraíso particular. Disse ela. Vestia uma saia curta e uma camiseta branca. O resultado final era sensual.
- Este é o meu castelo nas nuvens. Falou com ar de menina, enquanto ensaiava passos de dança.
- Se você não notou, quando pegamos o elevador, estamos no 9º andar, portanto nem pense em fugir de mim escapando pela janela. Brincou.
- Nem pensar, eu estou apaixonado...
- Claro, meu anjo, e se depender de mim vai continuar por um bom tempo. Riu.
A tarde daquele sábado passou vagarosamente. Escutaram jazz, conversaram, riram bastante, contaram piadas e falaram muito sobre suas vidas e expectativas futuras.
Quando chegou a noite jantaram e tomaram vinho. Deitaram no chão e com naturalidade se despiram. Trocaram muitos beijos e carinhos prolongando ao máximo as preliminares. O olhar de ambos revelava puro encantamento e felicidade. Lentamente fundiram os corpos e no final o ritmo da respiração, o jeito dela de gemer e de falar baixinho palavras ternas emocionaram profundamente ele. A luz da sala estava apagada. Pela janela entrava a luz da rua e os distantes sons da cidade. Na FM tocava Nara Leão:
No alto de uma montanha existe um lago azul
É lá que a lua se banha
Até amanhã de manhã me banha de luz (...)
Vejo a lua dizendo pro sol: eu sou tua namorada.
Em meu quarto crescente é você quem brilha e me reluz
Se você vai iluminar o Japão eu fico abandonada
Num pedaço qualquer de canção na voz dessa mulher...
Adormeceram. Na madrugada uma leve brisa abençoou um casal que dormia de mãos dadas, corpos pacificados e alma leve.
(Final do terceiro ato e começo de uma união que promete. Não sei bem o que, mas que promete, ah, lá isto promete.)
quinta-feira, outubro 28, 2004
Magda e Leandro. (O reencontro).
Amanhecia. A passarada em êxtase entoava cânticos de louvores para a aurora.(Salve mestre Castro Alves!) Ele caminhava no parque como sempre fazia quando tinha tempo e antes de ir para o serviço. Gostava de sentir o cheiro da terra, das árvores. Gostava de ver as pessoas correndo, estiradas nos bancos e na grama ou simplesmente andando como ele. Todo aquele clima, especialmente nas manhãs ensolaradas, lhe passavam uma energia positiva que incentivavam a calma e a tranqüilidade. Estava distraído, andando no chão ladrilhado ao largo do espelho d`água, quando sentiu a presença ao seu lado. Não precisou olhar, simplesmente sabia que era ela.
- Meu fantasma preferido, disse ele, querendo parecer natural e controlando a alegria que instantaneamente começou a sentir.
- Não é difícil te surpreender, disse ela sorrindo.
- Nosso amor deve estar escrito nas estrelas, falou ele com ar de divertimento. Na verdade, desde o primeiro momento e até agora único contato que tivera com ela, quando a conhecera daquela forma improvável, naquele final de domingo, não conseguia tirá-la da cabeça.
- É provável, o amor pode estar escrito em qualquer lugar.
- Já decidiu qual a cor do quarto do nosso filho?
- Querido, sei que nesta altura do campeonato teu sonho maluco é me arrastar para um motel e jogar a chave do quarto fora. Vamos com calma. Quem disse que quero ter filhos?
- Não é o que todas vocês querem?
- Sim, quero isto às vezes, assim como quero um milhão de outras coisas da vida.
- Tu és sempre irresistível com os caras que conheces?
- Não, normalmente são eles que querem parecer irresistíveis, mas eu prefiro ter o privilégio da escolha.
- Sei...
- Escuta, falou parando de repente, quem sabe se tu me dás um beijo! Mas atenção, só aceito se rolar carinho e amor verdadeiro, disse ela com um sorriso divertido.
- Beijo? A minha idéia era rasgar as tuas roupas e te possuir a força. Respondeu ele retribuindo o sorriso.
- Agora? Ainda não. Alguém pode não gostar... Falou ela enquanto se aproximava e num abraço grudava lentamente os seus lábios nos dele.
Neste momento o sol refletia no lago. A cidade começava a acordar.
(Fecha a cortina para mais um ato do teatro da vida.)
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Amanhecia. A passarada em êxtase entoava cânticos de louvores para a aurora.(Salve mestre Castro Alves!) Ele caminhava no parque como sempre fazia quando tinha tempo e antes de ir para o serviço. Gostava de sentir o cheiro da terra, das árvores. Gostava de ver as pessoas correndo, estiradas nos bancos e na grama ou simplesmente andando como ele. Todo aquele clima, especialmente nas manhãs ensolaradas, lhe passavam uma energia positiva que incentivavam a calma e a tranqüilidade. Estava distraído, andando no chão ladrilhado ao largo do espelho d`água, quando sentiu a presença ao seu lado. Não precisou olhar, simplesmente sabia que era ela.
- Meu fantasma preferido, disse ele, querendo parecer natural e controlando a alegria que instantaneamente começou a sentir.
- Não é difícil te surpreender, disse ela sorrindo.
- Nosso amor deve estar escrito nas estrelas, falou ele com ar de divertimento. Na verdade, desde o primeiro momento e até agora único contato que tivera com ela, quando a conhecera daquela forma improvável, naquele final de domingo, não conseguia tirá-la da cabeça.
- É provável, o amor pode estar escrito em qualquer lugar.
- Já decidiu qual a cor do quarto do nosso filho?
- Querido, sei que nesta altura do campeonato teu sonho maluco é me arrastar para um motel e jogar a chave do quarto fora. Vamos com calma. Quem disse que quero ter filhos?
- Não é o que todas vocês querem?
- Sim, quero isto às vezes, assim como quero um milhão de outras coisas da vida.
- Tu és sempre irresistível com os caras que conheces?
- Não, normalmente são eles que querem parecer irresistíveis, mas eu prefiro ter o privilégio da escolha.
- Sei...
- Escuta, falou parando de repente, quem sabe se tu me dás um beijo! Mas atenção, só aceito se rolar carinho e amor verdadeiro, disse ela com um sorriso divertido.
- Beijo? A minha idéia era rasgar as tuas roupas e te possuir a força. Respondeu ele retribuindo o sorriso.
- Agora? Ainda não. Alguém pode não gostar... Falou ela enquanto se aproximava e num abraço grudava lentamente os seus lábios nos dele.
Neste momento o sol refletia no lago. A cidade começava a acordar.
(Fecha a cortina para mais um ato do teatro da vida.)
domingo, outubro 24, 2004
O heróico enlevo de Magda e Leandro.
Ele tomava sua cerveja, como sempre fazia, naquele domingo no bar em frente ao píer na beira do rio. Era o entardecer de mais um enfadonho domingo. Em outras épocas esta hora do dia lhe deixava melancólico, pensando em toda uma nova semana a ser enfrentada. Isto não mais acontecia. Fazia algum tempo que Cronos perdera o poder de lhe alterar o humor. Agora todos os momentos lhe pareciam maçantes e ponto. Estava neste grau de filosofia profunda observando o sol que se punha engolido pelo rio, quando sentiu a mão no seu ombro. Era um toque leve e delicado, sutil mesmo. Meio a contra gosto olhou para o lado. Fazendo conjunto com a mão havia uma jovem de mais ou menos trinta anos. Belo rosto, belo par de seios e belas pernas... Pensou ao olhar mais atentamente. Também não pôde deixar de notar o cabelo, pintado de azul nos fios laterais, e verde nos do topo da cabeça. Vestia uma saia de tecido leve o suficiente para produzir uma certa transparência e uma blusa tomara-que-caia que deixava seus ombros a mostra. O resultado final era sensual o suficiente para tirá-lo do torpor meditativo em que se encontrava.
- Belo cenário, falou a jovem com o olhar perdido no espetáculo do crepúsculo.
Ainda tentando organizar os pensamentos frente ao presente que aparentemente estava ganhando da vida, ele falou em tom casual, como se conhecesse a moça desde pequeno:
- Também acho. Por isto, venho seguido aqui, com exceção dos dias de chuva e dos dias que tenho algo mais importante para fazer, tipo trabalhar, organizar o apartamento ou ler mais um livro que, com raras exceções, terá pouco a me dizer. Ah, também estudo e cuido de um gato nas horas vagas. E você o que faz? Perguntou, sem se preocupar com o interesse que seu olhar demonstrava e que não tinha a mínima intenção de dissimular.
- Caço nuvens durante o dia e estrelas durante a noite. - Respondeu ela.
- São belas atividades. E as coisas chatas?
- Também estudo Artes Cênicas e trabalho com publicidade junto com outros amigos... Ah, as vezes escrevo coisas na Internet.
- Bom, falou ele, podemos pensar em casar... Isto é, se os seus pais, suas amigas e seu bicho de estimação não forem muito chatos.
- Não, todos eles são bem bonzinhos e bem comportados. Apesar de que a mais normal sou eu mesma... Disse dando uma risada e jogando a cabeça e os cabelos para trás.
- Toma uma cerveja?
- Não querido, sou uma Cinderela e como em algum lugar já é meia-noite, tenho que voltar correndo para casa, antes que comece a terrível transformação...
- Assim? Revela-te como a mulher da minha vida e somes?
- Não, baby, disse sorrindo, eu volto a importuna-te.
- Nenhum nome, telefone ou endereço?
- Calma, calma... Vai sorvendo tudo como um bom vinho: De vagar e em pequenos goles... Disse ela sem esconder um ar de divertimento.
Falando isto girou rápido nos calcanhares e saiu dali sumindo entre as pessoas e a paisagem.
- Putz! Gritou ele. De repente tudo lhe parecia mais vivo e mais colorido.
sexta-feira, outubro 15, 2004
Convite
Fica comigo sem pressa e sem promessas.
Fica comigo sabendo que o caminho nem sempre é florido
Mas sabendo que ele, mesmo quando pedregoso é melhor e mais leve quando se percorre acompanhado.
Fica comigo sabendo que eu tenho coragem
Mas sabendo que a coragem não evita as dúvidas e os temores.
Fica comigo sabendo que eu te amo
Mas sabendo que momentos vão haver em que eu não vou te amar (a menos que eu ame ou até prova em contrário)
Fica comigo sabendo que eu quero tudo da vida e nada me sacia por completo, nem mesmo tu. ( porque a ALMA é insaciável e busca a plenitude).
Mas sabendo que estarei eternamente disposto a te oferecer AMOR.
E acima de tudo fica comigo por que eu preciso de ti e preciso dos outros.
Porque até se pode viver sozinho, mas viver é uma aventura bem mais estimulante quando se compartilham emoções.
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"Eu sei que flores existiram mas que não resistiram a vendavais constantes..." ...mas ( e isto é o mais importante) as sementes das flores permanecem no solo, prontas para germinar de novo, de novo e de novo, sempre que surgirem as condições propícias.
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Campanha permanente pela PAZ:
"Ouviste o que foi dito aos antigos":
"Se queres a PAZ preparate para a guerra."
Eu porém vos digo:
Se queres a PAZ prepara-te para ela.
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Da união da PAZ com o AMOR nasceram a TRANQÜILIDADE e a COMPAIXÃO.
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O Monge e o peregrino II
Existe um monge budista, que já foi SAMURAI (terrível senhor da guerra) um dia e que hoje dedica sua vida ao plantio das flôres.
Certa feita um peregrino, que por ali passava, lhe perguntou não escondendo um certo olhar de deboche e desdem:
- Mestre, que faz o senhor, que já liderou exércitos e foi reconhecido como bravo e praticamente imbatível guerreiro, plantando flôres?
Ao que o monge retrucou, olhando firme para o peregrino:
- Meu filho, já fui é certo um guerreiro. Desisti quando vi que cada vida que tirei era única e insubstituível . Vim então plantar flôres e incentivar a alegria de viver. Me deixe continuar com a minha semeadura, você vai preferir isto a me ver brandindo a espada.
(A VIDA AGRADECE)
-----------------X---------------------X-------------------
Por fim uma recitação budista:
"... possa o poderoso senhor da dança, enquanto pacifica os seres nestes tempos de degenerescência, permanecer sempre estável na imortalidade dos três segredos"
domingo, outubro 10, 2004
Mais uma vez publico uma poesia de Castro Alves. A beleza do texto é inegável e nos mostra uma outra face, mais romântica, deste poeta que anda um tanto esquecido.
1ª SOMBRA
MARIETA
Como o gênio da noite, que desata
2ª SOMBRA
BÁRBARA
Erguendo o cálix que o Xerez perfuma.
3ª SOMBRA
ESTER
Vem! no teu peito cálido e brilhante
4ª SOMBRA
FABÍOLA
Como teu riso dói... como na treva
5ª e 6ª SOMBRAS
CÂNDIDA E LAURA
Como no tanque de um palácio mago,
7ª SOMBRA
DULCE
Se houvesse ainda talismã bendito
8ª SOMBRA
ÚLTIMO FANTASMA
Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso,
Castro Alves
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Os Anjos da meia-noite
Quando a insônia, qual lívido vampiro,
Como o arcanjo da guarda do Sepulcro,
Vela à noite por nós,
E banha-se em suor o travesseiro,
E além geme nas franças do pinheiro
Da brisa a longa voz ...
Quando sangrenta a luz no alampadário
Estala, cresce, expira, após ressurge,
Como uma alma a penar;
E canta aos quizos rubros da loucura
A febre - a meretriz da sepultura
A rir e a soluçar ...
Quando tudo vacila e se evapora,
Muda e se anima, vive e se transforma.
Cambaleia e se esvai...
E da sala na mágica penumbra
Um mundo em trevas rápido se obumbra...
E outro das trevas sai...
Então... nos brancos mantos que arregaçam
Então... nos brancos mantos que arregaçam
Da meia-noite os Anjos alvos passam
Em longa procissão!
E eu murmuro ao fitá-los assombrado:
São os Anjos de amor de meu passado
Que desfilando vão ...
Almas, que um dia no meu peito ardente
Derramastes dos sonhos a semente,
Mulheres, que eu amei!
Anjos louros do céu! virgens serenas!
Madonas, Querubins ou Madalenas!
Surgi! aparecei!
Vinde, fantasmas! Eu vos amo ainda;
Acorde-se a harmonia à noite infinda
Ao roto bandolim ...
E, no éter, que em notas se perfuma,
E, no éter, que em notas se perfuma,
As visões s'alteando uma por uma...
Vão desfilando assim!...
1ª SOMBRA
MARIETA
Como o gênio da noite, que desata
O véu de , rendas sobre a espádua nua,
Ela solta os cabelos... Bate a lua
Nas alvas dobras de um lençol de prata
O seio virginal que a mão recata,
O seio virginal que a mão recata,
Embalde o prende a mão... cresce, flu
Sonha a moça ao relento...
Além naPreludia um violão na serenata!...
... Furtivos passos morrem no lajedo...
... Furtivos passos morrem no lajedo...
Resvala a escada do balcão discreta...
Matam lábios os beijos em segredo...
Afoga-me os suspiros, Marieta!
Oh surpresa! oh palor! oh pranto! oh medo!
Oh surpresa! oh palor! oh pranto! oh medo!
Ai! noites de Romeu e Julieta. . .
2ª SOMBRA
BÁRBARA
Erguendo o cálix que o Xerez perfuma.
Loura a trança alastrando-lhe os joelhos,
Dentes níveos em lábios tão vermelhos,
Como boiando em purpurina escuma;
Um dorso de Valquíria... alvo de bruma,
Um dorso de Valquíria... alvo de bruma,
Pequenos pés sob infantis artelhos,
Olhos vivos, tão vivos, como espelhos,
Mas como eles também sem chama alguma;
Garganta de um palor alabastrino,
Garganta de um palor alabastrino,
Que harmonias e músicas respira...
No lábio - um beijo... no beijar - um hino;
Harpa eólia a esperar que o vento a fira,
- Um pedaço de mármore divino... -
- Um pedaço de mármore divino... -
É o retrato de Bárbara - a Hetaira. -
3ª SOMBRA
ESTER
Vem! no teu peito cálido e brilhante
O nardo oriental melhor transpira!
Enrola-te na longa cachemira,
Como as judias moles do Levante,
Alva a clâmide aos ventos - roçagante...
Túmido o lábio, onde o saltério gira...
Túmido o lábio, onde o saltério gira...
Ó musa de Israel! pega da lira...
Canta os martírios de teu povo errante!
Mas não... brisa da pátria além revoa,
E ao delamber-lhe o braço de alabastro,
E ao delamber-lhe o braço de alabastro,
Falou-lhe de partir... e parte... e voa. . .
Qual nas algas marinhas desce um astro...
Linda Ester! teu perfil se esvai... s'escoa...
Só me resta um perfume... um canto... um rastro...
4ª SOMBRA
FABÍOLA
Como teu riso dói... como na treva
Os lêmures respondem no infinito:
Tens o aspecto do pássaro maldito,
Que em sânie de cadáveres se ceva!
Filha da noite! A ventania leva
Filha da noite! A ventania leva
Um soluço de amor pungente, aflito...
Fabíola!... É teu nome!...
Escuta é um grito,
Que lacerante para os céus s'eleva!...
E tu folgas, Bacante dos amores,
E tu folgas, Bacante dos amores,
E a orgia que a mantilha te arregaça,
Enche a noite de horror, de mais horrores...
É sangue, que referve-te na taça!
É sangue, que borrifa-te estas flores!
É sangue, que borrifa-te estas flores!
E este sangue é meu sangue... é meu... Desgraça!
5ª e 6ª SOMBRAS
CÂNDIDA E LAURA
Como no tanque de um palácio mago,
Dous alvos cisnes na bacia lisa,
Como nas águas que o barqueiro frisa,
Dous nenúfares sobre o azul do lago,
Como nas hastes em balouço vago
Dous lírios roxos que acalenta a brisa,
Dous lírios roxos que acalenta a brisa,
Como um casal de juritis que pisa
O mesmo ramo no amoroso afago...
Quais dous planetas na cerúlea esfera,
Como os primeiros pâmpanos das vinhas,
Como os renovos nos ramais da hera,
Eu vos vejo passar nas noites minhas,
Crianças que trazeis-me a primavera...
Crianças que lembrais-me as andorinhas! ...
7ª SOMBRA
DULCE
Se houvesse ainda talismã bendito
Que desse ao pântano - a corrente pura,
Musgo - ao rochedo, festa - à sepultura,
Das águias negras - harmonia ao grito...,
Se alguém pudesse ao infeliz precito
Dar lugar no banquete da ventura...
Dar lugar no banquete da ventura...
E tocar-lhe o velar da insônia escura
No poema dos beijos - infinito...,
Certo. . . serias tu, donzela casta,
Certo. . . serias tu, donzela casta,
Quem me tomasse em meio do Calvário
A cruz de angústias que o meu ser arrasta!. . .
Mas ,se tudo recusa-me o fadário,
Mas ,se tudo recusa-me o fadário,
Na hora de expirar, ó Dulce, basta
Morrer beijando a cruz de teu rosário!...
8ª SOMBRA
ÚLTIMO FANTASMA
Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso,
Que te elevas da noite na orvalhada?
Tens a face nas sombras mergulhada...
Sobre as névoas te libras vaporoso ...
Baixas do céu num vôo harmonioso!...
Quem és tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor a flor nevada
Cerca-te a fronte, ó ser misterioso! ...
Onde nos vimos nós?
És doutra esfera ?
És o ser que eu busquei do sul ao norte. . .
Por quem meu peito em sonhos desespera?
Por quem meu peito em sonhos desespera?
Quem és tu? Quem és tu? -
És minha sorte!
És talvez o ideal que est'alma espera!
És a glória talvez! Talvez a morte!
Castro Alves
terça-feira, outubro 05, 2004
Hoje, excepcionalmente, reproduzo o texto desta semana da Martha Medeiros, junto com o comentário que fiz no espaço disponibilizado no referido site. Trata-se de assunto polêmico dentro da área de costumes e comportamento e sendo assim acho que vale a pena ampliar e multiplicar o assunto debatido. Quem quiser pode deixar o seu comentário tanto aqui quanto no site original.
"Amantes promovidos"
04 de outubro de 2004
"Venho percebendo um fenômeno da ordem dos menos importantes, mas, ainda assim, curioso. Antigamente, a pessoa casada que vivia um relacionamento extra-conjugal tinha o quê? Um amante. Homens tinham amantes, mulheres tinham amantes, e amantes não tinham a menor chance de receber alguma condescendência por parte da sociedade. O povo caprichava na hora de estereotipá-los. No caso das amantes, eram descritas como notívagas que vestiam vermelho, mantinham garras afiadas, lingerie de tigrinho e cabelos excessivamente compridos. No caso dos amantes, eram homens com emprego incerto, que podiam escapar no meio da tarde, e que usavam camisas listradas. Por que camisas listradas? Sei lá, deve ter alguma relação com a imagem do malandro, uma coisa meio Moreira da Silva. Mas sem o chapéu. Os amantes exalavam luxúria. Eram pessoas de índole duvidosa, já que pouco se importavam de estar colaborando para a ruína dos lares. As amantes eram umas sem-vergonhas que queriam fisgar um marido a qualquer preço, os amantes eram uns farristas que divertiam-se comendo a mulher do próximo. Um pessoal absolutamente sem coração. Alguém ainda tem amante? Nunca mais ouvi falar. E olha que eu lido com gente à beça, de tudo quanto é tipo, formato, cor, idade, estado civil. Ninguém mais tem amante. É uma raça em extinção. As pessoas, agora, casam e são felizes para sempre. E, quando acham que o "pra sempre" anda meio tedioso, arranjam um namorado.Homens têm a esposa e uma namorada. Mulheres têm o marido e um namorado. Nunca vi nada mais familiar. As namoradas são estudantes, médicas, bibliotecárias, mulheres que usam jeans e camiseta, cabelo curto e unhas curtas, elegantes e discretas. Discutem Nietzche, são companhia para um cinema, passam as festas de fim de ano com a turma sem reclamar. Os namorados são surfistas, engenheiros, instrutores de informática. Mandam e-mails carinhosos, sugerem discos de jazz, dizem eu te amo. Amante é coisa de quem curte relações clandestinas, transa atrás das portas e exagera no perfume. Uma decadência. Os amantes foram promovidos a namorados. Adeus vestidos vermelhos e camisas listradas."
Meu comentário:
Gostei disto. Hoje está surgindo a compreensão de que todos somos ao mesmo tempo "pecadores" e "algozes". Todos temos um infinito desejo de felicidade e todos queremos nos relacionar e ficar bem com o maior número possível de pessoas sem que para isto seja necessário o enquadramento em algum tipo de estereótipo. Numa sociedade onde a maioria tem atividades fora de casa é praticamente inevitável que surjam relações de amizade, inclusive com pessoas do sexo oposto. Se eventualmente alguma destas amizades evoluem para um namoro com direito inclusive a escapadas para um motel já é outra história. Uma história que vai ter de ser interpretada e compreendida, ou não, por todas as pessoas envolvidas (conjuges e namorado(a)). Me parece que o difícil mesmo das pessoas entenderem não é tanto a "traição" em sí, mas sim a mentira e a ocultação, muitas vezes inevitáveis, como proteção de um doloroso julgamento alheio. O casamento leva muitas vezes ao tédio do dia a dia, e termina não deixando margem para o sonho e a fantasia, coisa que o namoro fornece de sobra (se não não seria namoro). Como compatibilizar uma instituição de princípios rígidos como o casamento com o desejo humano de liberdade afetiva? Não sei.Todos buscamos respostas e creio que todos queremos a nossa felicidade sem causar prejuizo a outro(s). Desde o começo da civilização e da vida em grupo temos experimentado diversas fórmulas, nenhuma até agora plenamente satisfatória ao mesmo tempo para todo mundo. Enquanto isto haja psicanálise, haja religião, haja filosofia, e haja auto-perdão para aplacar as nossas consciências tão confusas diante do eterno conflito entre o querer da ALMA e os deveres impostos ao corpo.
Abraços.
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"Amantes promovidos"
04 de outubro de 2004
"Venho percebendo um fenômeno da ordem dos menos importantes, mas, ainda assim, curioso. Antigamente, a pessoa casada que vivia um relacionamento extra-conjugal tinha o quê? Um amante. Homens tinham amantes, mulheres tinham amantes, e amantes não tinham a menor chance de receber alguma condescendência por parte da sociedade. O povo caprichava na hora de estereotipá-los. No caso das amantes, eram descritas como notívagas que vestiam vermelho, mantinham garras afiadas, lingerie de tigrinho e cabelos excessivamente compridos. No caso dos amantes, eram homens com emprego incerto, que podiam escapar no meio da tarde, e que usavam camisas listradas. Por que camisas listradas? Sei lá, deve ter alguma relação com a imagem do malandro, uma coisa meio Moreira da Silva. Mas sem o chapéu. Os amantes exalavam luxúria. Eram pessoas de índole duvidosa, já que pouco se importavam de estar colaborando para a ruína dos lares. As amantes eram umas sem-vergonhas que queriam fisgar um marido a qualquer preço, os amantes eram uns farristas que divertiam-se comendo a mulher do próximo. Um pessoal absolutamente sem coração. Alguém ainda tem amante? Nunca mais ouvi falar. E olha que eu lido com gente à beça, de tudo quanto é tipo, formato, cor, idade, estado civil. Ninguém mais tem amante. É uma raça em extinção. As pessoas, agora, casam e são felizes para sempre. E, quando acham que o "pra sempre" anda meio tedioso, arranjam um namorado.Homens têm a esposa e uma namorada. Mulheres têm o marido e um namorado. Nunca vi nada mais familiar. As namoradas são estudantes, médicas, bibliotecárias, mulheres que usam jeans e camiseta, cabelo curto e unhas curtas, elegantes e discretas. Discutem Nietzche, são companhia para um cinema, passam as festas de fim de ano com a turma sem reclamar. Os namorados são surfistas, engenheiros, instrutores de informática. Mandam e-mails carinhosos, sugerem discos de jazz, dizem eu te amo. Amante é coisa de quem curte relações clandestinas, transa atrás das portas e exagera no perfume. Uma decadência. Os amantes foram promovidos a namorados. Adeus vestidos vermelhos e camisas listradas."
Meu comentário:
Gostei disto. Hoje está surgindo a compreensão de que todos somos ao mesmo tempo "pecadores" e "algozes". Todos temos um infinito desejo de felicidade e todos queremos nos relacionar e ficar bem com o maior número possível de pessoas sem que para isto seja necessário o enquadramento em algum tipo de estereótipo. Numa sociedade onde a maioria tem atividades fora de casa é praticamente inevitável que surjam relações de amizade, inclusive com pessoas do sexo oposto. Se eventualmente alguma destas amizades evoluem para um namoro com direito inclusive a escapadas para um motel já é outra história. Uma história que vai ter de ser interpretada e compreendida, ou não, por todas as pessoas envolvidas (conjuges e namorado(a)). Me parece que o difícil mesmo das pessoas entenderem não é tanto a "traição" em sí, mas sim a mentira e a ocultação, muitas vezes inevitáveis, como proteção de um doloroso julgamento alheio. O casamento leva muitas vezes ao tédio do dia a dia, e termina não deixando margem para o sonho e a fantasia, coisa que o namoro fornece de sobra (se não não seria namoro). Como compatibilizar uma instituição de princípios rígidos como o casamento com o desejo humano de liberdade afetiva? Não sei.Todos buscamos respostas e creio que todos queremos a nossa felicidade sem causar prejuizo a outro(s). Desde o começo da civilização e da vida em grupo temos experimentado diversas fórmulas, nenhuma até agora plenamente satisfatória ao mesmo tempo para todo mundo. Enquanto isto haja psicanálise, haja religião, haja filosofia, e haja auto-perdão para aplacar as nossas consciências tão confusas diante do eterno conflito entre o querer da ALMA e os deveres impostos ao corpo.
Abraços.