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terça-feira, outubro 05, 2004

Hoje, excepcionalmente, reproduzo o texto desta semana da Martha Medeiros, junto com o comentário que fiz no espaço disponibilizado no referido site. Trata-se de assunto polêmico dentro da área de costumes e comportamento e sendo assim acho que vale a pena ampliar e multiplicar o assunto debatido. Quem quiser pode deixar o seu comentário tanto aqui quanto no site original.


"Amantes promovidos"
04 de outubro de 2004

"Venho percebendo um fenômeno da ordem dos menos importantes, mas, ainda assim, curioso. Antigamente, a pessoa casada que vivia um relacionamento extra-conjugal tinha o quê? Um amante. Homens tinham amantes, mulheres tinham amantes, e amantes não tinham a menor chance de receber alguma condescendência por parte da sociedade. O povo caprichava na hora de estereotipá-los. No caso das amantes, eram descritas como notívagas que vestiam vermelho, mantinham garras afiadas, lingerie de tigrinho e cabelos excessivamente compridos. No caso dos amantes, eram homens com emprego incerto, que podiam escapar no meio da tarde, e que usavam camisas listradas. Por que camisas listradas? Sei lá, deve ter alguma relação com a imagem do malandro, uma coisa meio Moreira da Silva. Mas sem o chapéu. Os amantes exalavam luxúria. Eram pessoas de índole duvidosa, já que pouco se importavam de estar colaborando para a ruína dos lares. As amantes eram umas sem-vergonhas que queriam fisgar um marido a qualquer preço, os amantes eram uns farristas que divertiam-se comendo a mulher do próximo. Um pessoal absolutamente sem coração. Alguém ainda tem amante? Nunca mais ouvi falar. E olha que eu lido com gente à beça, de tudo quanto é tipo, formato, cor, idade, estado civil. Ninguém mais tem amante. É uma raça em extinção. As pessoas, agora, casam e são felizes para sempre. E, quando acham que o "pra sempre" anda meio tedioso, arranjam um namorado.Homens têm a esposa e uma namorada. Mulheres têm o marido e um namorado. Nunca vi nada mais familiar. As namoradas são estudantes, médicas, bibliotecárias, mulheres que usam jeans e camiseta, cabelo curto e unhas curtas, elegantes e discretas. Discutem Nietzche, são companhia para um cinema, passam as festas de fim de ano com a turma sem reclamar. Os namorados são surfistas, engenheiros, instrutores de informática. Mandam e-mails carinhosos, sugerem discos de jazz, dizem eu te amo. Amante é coisa de quem curte relações clandestinas, transa atrás das portas e exagera no perfume. Uma decadência. Os amantes foram promovidos a namorados. Adeus vestidos vermelhos e camisas listradas."

Meu comentário:

Gostei disto. Hoje está surgindo a compreensão de que todos somos ao mesmo tempo "pecadores" e "algozes". Todos temos um infinito desejo de felicidade e todos queremos nos relacionar e ficar bem com o maior número possível de pessoas sem que para isto seja necessário o enquadramento em algum tipo de estereótipo. Numa sociedade onde a maioria tem atividades fora de casa é praticamente inevitável que surjam relações de amizade, inclusive com pessoas do sexo oposto. Se eventualmente alguma destas amizades evoluem para um namoro com direito inclusive a escapadas para um motel já é outra história. Uma história que vai ter de ser interpretada e compreendida, ou não, por todas as pessoas envolvidas (conjuges e namorado(a)). Me parece que o difícil mesmo das pessoas entenderem não é tanto a "traição" em sí, mas sim a mentira e a ocultação, muitas vezes inevitáveis, como proteção de um doloroso julgamento alheio. O casamento leva muitas vezes ao tédio do dia a dia, e termina não deixando margem para o sonho e a fantasia, coisa que o namoro fornece de sobra (se não não seria namoro). Como compatibilizar uma instituição de princípios rígidos como o casamento com o desejo humano de liberdade afetiva? Não sei.Todos buscamos respostas e creio que todos queremos a nossa felicidade sem causar prejuizo a outro(s). Desde o começo da civilização e da vida em grupo temos experimentado diversas fórmulas, nenhuma até agora plenamente satisfatória ao mesmo tempo para todo mundo. Enquanto isto haja psicanálise, haja religião, haja filosofia, e haja auto-perdão para aplacar as nossas consciências tão confusas diante do eterno conflito entre o querer da ALMA e os deveres impostos ao corpo.

Abraços.



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