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sábado, março 18, 2006


Ventania...
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A inexorabilidade da existência... Lembranças que da distância ecoam... Fantasmas do passado vindo pedir abrigo. Espectros de um futuro em tudo incerto...
Paulo estava mergulhado em pensamentos em um final de tarde de autocomiseração. As ruas estavam quase desertas, pois a noite se aproximava e o que todos queriam era chegar logo em casa nem que fosse para fugir de um temporal que começava a se aproximar vindo do horizonte. Caminhava sem rumo, tentando organizar seus pensamentos e descobrir o que, afinal lhe atormentava a alma. Tivera uma infância difícil, o pai se suicidara quando ele tinha dez anos e a mãe chamara para si toda a responsabilidade de levar sozinha a sua vida e a dele. Daí para frente, sempre se sentia agoniado e com algo a provar, não importava para quem. Acreditava que tinha débitos a resgatar e se sentia perdido. Foi sempre um aluno dispersivo, pouco interessado nos conceitos e valores que as escolas tentavam lhe passar. Mas isto não fazia dele um sujeito inculto, ao contrário, adquiriu gosto pela leitura e conhecimento e buscava intuitivamente alimentar sua alma atrás de respostas para tantas perguntas Um raio rasgava o céu. O estrondo lhe assustou um pouco e lhe fez apressar o passo. Não parecia importar-se com nada, nem com os pingos de chuva que começavam a cair. Lembrava de mulheres, várias; de noitadas, poucas; de conversas, muitas. Só não lembrava, pois já não lhe parecia importante, o que o fizera sair da proteção da casa para enfrentar o mundo quando completou vinte anos. Havia conseguido um emprego e, suprema ironia, queria a liberdade. Formou-se em uma noite de gala, com o reitor enfatiotado lhe entregando o diploma e a mãe chorosa dizendo emocionada que completara a sua missão. Fez carreira, nunca experimentou drogas e teve um filho que, ao morrer aos sete anos, deu fim também ao seu casamento. Não se sentia vítima. Não acreditava em religiões e achava que tudo no final talvez fosse explicado como nos velhos debates pós-sessão cinematográfica nos seus tempos de cursinho. A chuva agora estava mais forte, sua roupa encharcada. Continuou caminhando, já sem muitos pensamentos e assim foi durante toda aquela noite de temporal e negritude. Seu corpo foi encontrado no meio de um parque em uma bela e comum manhã de sol



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