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quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Um carnaval...
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- Você me chama lá em casa?
O sotaque carioca soava irresistível. Marcelo foi para casa com aquele sorriso bobo de piá apaixonado, não vendo a hora do sábado chegar e com ele o baile de carnaval. Já tinha namorado algumas minas (naquele tempo não existia o verbo ficar) - se é que se pode chamar de namoro algumas idas a cinema, passeios no parque e beijos furtivos no portão. Não tinha transado com nenhuma e era gozado pelos amigos, todos, sem excessão, mais experientes que ele (pelo menos a julgar pelas histórias que eles contavam). Se achava o mais tímido da turma. Naquela noite não brigou com a irmã (uma chata de vinte e poucos e sem namorado) como fazia seguidamente e por qualquer motivo, foi dormir cedo, acordou de madrugada e amanheceu olhando para o teto sonhando acordado.
Finalmente chegou o sábado, acordou tarde, levou o cachorro para passear e telefonou para o Gilberto e o Neni. Combinaram de se encontrar na casa do Gil, cujos pais estavam na praia e onde havia uma garrafa quase cheia de Vodca. Depois de beberem meia garrafa sairam ali pelas 9 da noite e foram caminhando em direção ao clube.
- Preciso passar na casa da Fabi.
- Quem é a Fabi?
- É aquela mina do Rio.
- Aquela carioca gostosa?
- É, a carioca, combinei que a pegaria em casa.
- Ih Neni, tá vendo? Parece que desta vez o Marcelinho vai perder a virgindade...
- Pô cara, não enche...
Chegaram na casa da guria. Quem atendeu foi um velho que perguntou sério:
- Vocês vieram buscar a Fabiana?
- Sim, combinamos de ir para o carnaval no clube.
- Ela está terminando de se arrumar e já vem.
Sentaram e esperaram disfarçando para não encarar o seu Nelson (este era o nome dele conforme iriam saber mais tarde) que os olhava mal disfarçando a cara amarrada.
Finalmente ela apareceu, cabelos lisos, suavemente maquiada, com uma frente única, uma saia de havaiana e sandalia. Foram saindo e ela se despediu do avô.
- Por mim tu não ia, mas como teu pai deixou...
- Ih vô, se preocupa não... eu sei me cuidar...
- Com dezessete anos tu deve saber mesmo...
- Tchau, vô, fica com Deus!
- Té logo - falaram em coro os guris - ao que ouviram um grunido como resposta.
Foram caminhando, ela pegou na mão dele e rindo da reação meio desajeitada perguntou:
- Cê tá nervoso?
- Não Fabi...
- Tá sim - brincou o Neni - ele nunca namorou na vida...
- Não enche...
- Sempre tem uma primeira vez para tudo - respondeu ela com olhar divertido.
Chegaram no clube, ele como sócio tinha entrada liberada, mas terminou pagando a entrada dela, os guris acabaram se dispersando na multidão e só ficaram os dois ainda no saguão e sem entrar para a pista de dança. Conversaram, riram, brincaram, mas por mais que ela convidasse ele postergava a entrada no salão.
- Me espera aqui que eu vou buscar um refri pra gente.
Entrou na fila, pagou esperou até chegar a vez e finalmente, quinze minutos, depois pegou as bebidas.
Foi chegando e viu a guria conversando com um cara.
- Toma o refri Fabi...
- Marcelo este é o...
- Carlos - respondeu o cara com jeito de surfista motoqueiro.
- Teu irmão se importa se tu for dançar comigo?
Marcelo olhou para ela e repondeu fingindo descasso:
- Tu que sabe...
- Eu vou ali dançar um pouco e já volto - Disse ela.
Esperou o resto da noite e ao amanhecer acabou voltando sozinho para casa, chutando latas de cerveja no meio da rua e com uma lágrima que insistia em querer cair por mais que ele secasse com o dorso da mão.
Não falou mais naquele carnaval com ela e soube, dias depois, que retornara para o Rio, onde faria faculdade, se formaria em medicina, se casaria com um engenheiro paulista e teria dois filhos.
Ele não casaria, passaria em um concurso público e terminaria indo morar com uma colega de trabalho que tinha um filho pequeno. O tal surfistão viraria motoboy e dividiria um JK com outro cara, enquanto juntava dinheiro para, segundo ele, ir morar nos States. O Neni acabaria se afastando e indo para outro estado.
Ele e o Gilberto ainda se encontram de vez em quando, contam piadas sem graça e mentiras com menos menos graça ainda, enquanto comem pastel e enchem a cara de cerveja...



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