sábado, novembro 06, 2004
Magda e Leandro V (considerações sobre a solidão).
Leandro voltou a pé para casa. Escurecia naquele final de domingo. Sentia-se feliz, apesar de um pouco confuso. Sempre fora um cara meio solitário, por escolha própria. Eventualmente saia com amigos ou colegas de trabalho, para beber ou jogar conversa fora, mas isto não lhe satisfazia muito. Não gostava dos jogos de enganação que rolam quando vários homens se reúnem para se divertir e conversar. Não sentia grande vantagem em escutar, e às vezes também contar (só para não ficar para trás), estórias e feitos que todos sabiam ser, na maior parte, pura invenção. Se todos eram os grandes comedores que diziam ser (inclusive ele) porque será que por trás das bravatas e feitos heróicos deixavam transparecer tanta inconformidade, solidão e descontentamento com a vida? Sim, sabia que, por via de regra, assuntos mais profundos e filosóficos não eram costume nas rodas de conversa masculina. Todos (inclusive ele) tão frágeis e querendo posar de garanhões, vencedores, sabedores, habilidosos e ao mesmo tempo tentando com piadas e deboches tirar o tapete uns dos outros. Conversas em grupos mistos também não lhe satisfaziam por completo, pois se sabia egocêntrico. Gostava mesmo era de conversar com mulheres inteligentes, com quem podia se abrir mais e com menos limitações. Mas mesmo isto tinha seus senões, pois prezava muito à liberdade (por isto ainda não casara), e mulheres, quando começavam a sair seguido com o mesmo cara, sempre queriam compromisso. Enfim, se sabia exigente e chato, por isto optara pela solidão na maior parte do seu tempo livre. Assim não precisava impor sua chatice e nem precisava aturar as dos outros.
Mas com Magda tudo estava sendo diferente, ela conseguia lhe tocar o coração e ao mesmo tempo lhe deixar a vontade, sem exigir e cobrar demais. Ela lhe lembrava a música "Vitoriosa" de Ivan Lins:
Quero sua risada mais gostosa,
Esse seu jeito de achar
Que a vida pode ser maravilhosa.
Quero sua alegria escandalosa,
Vitoriosa por não ter
Vergonha de aprender como se goza.
Quero toda sua pouca castidade,
Quero toda sua louca liberdade,
Quero toda essa vontade
De passar dos seus limites,
E ir além, e ir além.
Sim, ele queria isto de uma mulher, e estava tendo com Magda!
DEUS tenha piedade de minha alma (pensou sorrindo).
Magda e Leandro VI ("La Belle Histoire D'Amour").
Na frente do prédio, Magda beijou Leandro e entrou correndo. Era pura alegria. Apertou o botão do elevador com impaciência. Cumprimentou sorrindo a velhinha que saia quando ele chegou. Apertou o 9º andar e se olhou no espelho que havia na cabine. Achou-se bonita, bonita não, achou-se linda.
- Linda e luminosa.
Falou sozinha não contendo o riso.
- Eu estou louca. Falou para a sua imagem refletida
- Louca de feliz...
Chegou no seu apartamento e ligou a televisão (era um truque que usava para não se sentir sozinha). Na TV um repórter falava sobre uma guerra em algum lugar do mundo. Mudou o canal. Na MTV tocava um clipe de uma banda de rock. Ao ver o vocalista pensou : Este cara é um gato!
- Mas o meu é melhor - falou alto não contendo a risada.
Dançou um pouco em frente à televisão ao som da música.
- Definitivamente estou maluca.
- Tô nem aí, que venha a felicidade.
Correu para o telefone e discou um número. Deitou de bruços no sofá enquanto o telefone chamava e jogou as pernas para cima.
- Helsinha?
- Sim?
- Mags...
- Oi, sua doida! O que aconteceu? Perdeu de novo a chave do apartamento?
- Não, abestada. Adivinha com quem passei o fim de semana.
- Com teus pais?
- Claro que não maluca...passei com ele...
- Ele quem?
- O "Sério"...
- Sério que Sé...
- O cara que te falei.
- Séeeerio?
- É séeeerio, bobona, estamos namorando...
- Ai guria, me conta...
- Ele é um gato, assim meio formal e divertido...
- Formal e divertido?
- É... Deixa pra lá, tu não vai entender mesmo...
- Sei... Já vi que não vai dar nada que preste...
- Invejosa. Rs... Pára de me urubuzar!
- Sério Mags, vai , mas vai com cuidado... Falo isto porque gosto de ti.
- Eu sei Helsinha. É que eu tô muito, muito feliz...
- Tenho que desligar; o Nelson está me chamando.
- Nelson! Nelson! Agora tu só queres saber deste Nelson...
- Até parece... Quem é que estava falando sobre novo namorado mesmo?
- Tá bom, Helsinha. Um beijo... E um beijo no Nelson...
- Sua atirada. Deixa o... Como é mesmo o nome do cara mesmo?
- Leandro...
- Deixa o Leandro saber disto...
- Não deixo não, além do mais o meu é mais bonito...
- Sei... Te cuida, Mags!
- Me cuido sim e tu te cuida com o Nelson, ele é tarado...
- Ah, ah, ah...Que bom se fosse mesmo... Bom, fofa: Vou desligar.
- Tchau...
Desligou o telefone. Ficou um tempão deitada e olhando para a TV. Tudo estava super colorido. Pegou no sono. Sorrindo.
(A alegria é fonte de vida.)
Leandro voltou a pé para casa. Escurecia naquele final de domingo. Sentia-se feliz, apesar de um pouco confuso. Sempre fora um cara meio solitário, por escolha própria. Eventualmente saia com amigos ou colegas de trabalho, para beber ou jogar conversa fora, mas isto não lhe satisfazia muito. Não gostava dos jogos de enganação que rolam quando vários homens se reúnem para se divertir e conversar. Não sentia grande vantagem em escutar, e às vezes também contar (só para não ficar para trás), estórias e feitos que todos sabiam ser, na maior parte, pura invenção. Se todos eram os grandes comedores que diziam ser (inclusive ele) porque será que por trás das bravatas e feitos heróicos deixavam transparecer tanta inconformidade, solidão e descontentamento com a vida? Sim, sabia que, por via de regra, assuntos mais profundos e filosóficos não eram costume nas rodas de conversa masculina. Todos (inclusive ele) tão frágeis e querendo posar de garanhões, vencedores, sabedores, habilidosos e ao mesmo tempo tentando com piadas e deboches tirar o tapete uns dos outros. Conversas em grupos mistos também não lhe satisfaziam por completo, pois se sabia egocêntrico. Gostava mesmo era de conversar com mulheres inteligentes, com quem podia se abrir mais e com menos limitações. Mas mesmo isto tinha seus senões, pois prezava muito à liberdade (por isto ainda não casara), e mulheres, quando começavam a sair seguido com o mesmo cara, sempre queriam compromisso. Enfim, se sabia exigente e chato, por isto optara pela solidão na maior parte do seu tempo livre. Assim não precisava impor sua chatice e nem precisava aturar as dos outros.
Mas com Magda tudo estava sendo diferente, ela conseguia lhe tocar o coração e ao mesmo tempo lhe deixar a vontade, sem exigir e cobrar demais. Ela lhe lembrava a música "Vitoriosa" de Ivan Lins:
Quero sua risada mais gostosa,
Esse seu jeito de achar
Que a vida pode ser maravilhosa.
Quero sua alegria escandalosa,
Vitoriosa por não ter
Vergonha de aprender como se goza.
Quero toda sua pouca castidade,
Quero toda sua louca liberdade,
Quero toda essa vontade
De passar dos seus limites,
E ir além, e ir além.
Sim, ele queria isto de uma mulher, e estava tendo com Magda!
DEUS tenha piedade de minha alma (pensou sorrindo).
Magda e Leandro VI ("La Belle Histoire D'Amour").
Na frente do prédio, Magda beijou Leandro e entrou correndo. Era pura alegria. Apertou o botão do elevador com impaciência. Cumprimentou sorrindo a velhinha que saia quando ele chegou. Apertou o 9º andar e se olhou no espelho que havia na cabine. Achou-se bonita, bonita não, achou-se linda.
- Linda e luminosa.
Falou sozinha não contendo o riso.
- Eu estou louca. Falou para a sua imagem refletida
- Louca de feliz...
Chegou no seu apartamento e ligou a televisão (era um truque que usava para não se sentir sozinha). Na TV um repórter falava sobre uma guerra em algum lugar do mundo. Mudou o canal. Na MTV tocava um clipe de uma banda de rock. Ao ver o vocalista pensou : Este cara é um gato!
- Mas o meu é melhor - falou alto não contendo a risada.
Dançou um pouco em frente à televisão ao som da música.
- Definitivamente estou maluca.
- Tô nem aí, que venha a felicidade.
Correu para o telefone e discou um número. Deitou de bruços no sofá enquanto o telefone chamava e jogou as pernas para cima.
- Helsinha?
- Sim?
- Mags...
- Oi, sua doida! O que aconteceu? Perdeu de novo a chave do apartamento?
- Não, abestada. Adivinha com quem passei o fim de semana.
- Com teus pais?
- Claro que não maluca...passei com ele...
- Ele quem?
- O "Sério"...
- Sério que Sé...
- O cara que te falei.
- Séeeerio?
- É séeeerio, bobona, estamos namorando...
- Ai guria, me conta...
- Ele é um gato, assim meio formal e divertido...
- Formal e divertido?
- É... Deixa pra lá, tu não vai entender mesmo...
- Sei... Já vi que não vai dar nada que preste...
- Invejosa. Rs... Pára de me urubuzar!
- Sério Mags, vai , mas vai com cuidado... Falo isto porque gosto de ti.
- Eu sei Helsinha. É que eu tô muito, muito feliz...
- Tenho que desligar; o Nelson está me chamando.
- Nelson! Nelson! Agora tu só queres saber deste Nelson...
- Até parece... Quem é que estava falando sobre novo namorado mesmo?
- Tá bom, Helsinha. Um beijo... E um beijo no Nelson...
- Sua atirada. Deixa o... Como é mesmo o nome do cara mesmo?
- Leandro...
- Deixa o Leandro saber disto...
- Não deixo não, além do mais o meu é mais bonito...
- Sei... Te cuida, Mags!
- Me cuido sim e tu te cuida com o Nelson, ele é tarado...
- Ah, ah, ah...Que bom se fosse mesmo... Bom, fofa: Vou desligar.
- Tchau...
Desligou o telefone. Ficou um tempão deitada e olhando para a TV. Tudo estava super colorido. Pegou no sono. Sorrindo.
(A alegria é fonte de vida.)
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